terça-feira, 23 de agosto de 2016

Crítica: "Nerve: Um Jogo Sem Regras"

Nerve: Um Jogo Sem Regras
(Nerve)
Data de Estreia no Brasil: 25/08/2016
Direção: Henry Joost, Ariel Schulman
Distribuição: Lionsgate

          "Nerve" acompanha sua personagem principal Vee (Emma Roberts), uma tímida garota de Staten Island que lida com problemas de ansiedade social e medo de sair de sua zona de conforto (como o próprio filme define de maneira exaustiva, mas já chegarei nisso). Através de sua melhor amiga Sydney, Vee começa a participar de um jogo de interação online chamado Nerve, onde pessoas se inscrevem como "jogadores" ou "observadores". Os primeiros são responsáveis por cumprir desafios, (filmando tudo a partir de seus telefones) propostos pelos observadores, que escolhem quem dos jogadores observarão. A premissa de um jogo onde pessoas são obrigadas a cumprir tarefas não é nada inovadora, porém a interação proposta por Nerve, que se faz extremamente presente, ao mesmo tempo que é geograficamente distante, é algo que conversa muito com nossa realidade, constituindo algo extremamente plausível e que permite reflexões muito interessantes.

          Partindo de uma excelente premissa, "Nerve" consegue manter-se muito intrigante e envolvente até o fim, resultando em uma película com grande capacidade de entretenimento e imersão. O conceito do filme permite a existência de inúmeras possibilidades para que seu desenvolvimento narrativo se concretize. O elemento da criação de desafios pelos "observadores" a serem cumpridos pelos personagens principais faz com que a trama consiga ser bastante imprevisível em vários momentos, o que rende uma boa tensão inicial enquanto o público tenta adivinhar o que se passará a seguir. O grande problema é que isso não se aplica também ao desenvolvimento dos personagens.
     Apesar de boa parte das atuações serem suficientemente convincentes, principalmente a do casal de protagonistas (Emma Roberts e Dave Franco) e de Emily Meade (Sydney), não há em "Nerve" nenhum personagem realmente interessante e complexo. Grande parte dos personagens simplesmente cumpre tabela no sentido de fazer a trama progredir, sem qualquer tipo de personalidade. Os que o roteiro tenta desenvolver, o faz de maneira extremamente pobre. A personalidade de Vee só não é mais óbvia porque não houve possibilidade de encaixar um maior número de diálogos expositivos e situações convenientes na curta duração de "Nerve" (96 min). Ao massacrar o público com uma verborragia de informações sobre seus personagens, a única coisa alcançada pelo filme é torná-los óbvios e simplistas, sem um mínimo espaço para dúvidas, inconsistências ou verdadeiros dilemas. Ao contrário da narrativa, a impossibilidade de tentar interpretar os personagens torna-os completamente desinteressantes e artificiais, com interações forçadas entre si que falham em transmitir qualquer tipo de naturalidade.
            Dessa forma, o grande destaque e propósito de "Nerve" acaba por ser mesmo seu valor de entretenimento. Para este propósito, contribui muito uma competente cinematografia, que se utiliza de uma forte iluminação para dar ao filme um marcante estilo visual, com o uso de muitas cores e um neon que reforça o tom de artificialidade presente nos temas discutidos pelo filme. A direção de Henry Joost e Ariel Shulman é funcional, mas demasiadamente burocrática. A dupla responsável pelos terceiro e quarto filmes da franquia "Premonição" faz um trabalho bastante decente com a disposição de suas câmeras, me agradando principalmente a forma como optam por dispor as informações visualizadas pelos personagens em seus aparelhos eletrônicos, integrando-as bem com a ação mostrada em tela. Entretanto, suas opções de enquadramento e movimentação são conservadoras e estáticas demais para um filme com uma estética tão marcante. Não consigo me lembrar de nenhuma sequência em "Nerve" que realmente se destaque no sentido visual.
             Apesar de sua inegável qualidade em vários aspectos, "Nerve" me deixa com uma impressão muito forte e insistente de potencial desperdiçado. O filme opta por dedicar seu foco a questões simplistas e desinteressantes, enquanto negligencia o que seria realmente interessante. De maneira muito semelhante a "O Preço do Amanhã" (2011), "Nerve" desperdiça a oportunidade de traçar interessantes críticas sociais ao apostar em personagens e dinâmicas clichês, constituindo um produto final com decente valor de entretimento, mas que poderia ter sido muito mais e melhor. Quem são os criadores deo jogo Nerve? Qual o seu objetivo? Qual limite as pessoas estão realmente dispostas a atingir por conta de um jogo? Estas são perguntas que permanecerão sem respostas, pois "Nerve" é apenas mais um filme pouco ambicioso e marcante de 2016.







Bom

Por Obi-Wan

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