segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Crítica: "45 Anos"

45 Anos
(45 Years)
Data de Estreia no Brasil: 29/10/2015
Direção: Andrew Haigh
Distribuição: IMOVISION

É fácil perceber como que “45 Anos” é tão comparado com “Amor” de Michael Haneke como uma versão leve deste. Porém, se por um lado é evidente uma inspiração dos realizadores da projeção em retratar o cotidiano de um casal de idosos que é abalado por um acontecimento específico (gerando no percurso um estudo delicado sobre as relações humanas ao longo do tempo), o aparente tom “mais leve” do atual lançamento pode soar simplista demais. Sim, enquanto a obra-prima de Haneke era mais evidente em sua melancolia e na discussão quanto ao sentimento que dava título ao filme, “45 Anos” adota uma abordagem mais contida e alegórica, mas que possui também resultados interessantes.

Para tanto a narrativa se desenrola da seguinte maneira: Kate (Charlotte Rampling) e Geoff Macer (Tom Courtenay) estão prestes a comemorar seu aniversário de 45 anos de casamento, é quando este recebe uma carta que o informa de que o corpo de uma ex-namorada foi encontrado congelado e preservado nas geleiras dos Alpes Suíços. A partir deste acontecimento o filme foca na mudança de perspectiva e conflitos internos dos personagens que acabam por refletir numa crise no relacionamento daquele casal que está a quase cinco décadas juntos.
Escrito e dirigido com talento pelo jovem Andrew Haigh, o filme adota um ritmo deliberadamente lento para investigar o turbilhão emocional que aflora dos personagens. Haigh adota uma lógica visual interessante desde seus instantes iniciais ao enfocar sempre à distância a propriedade dos Macer, algo que salienta um certo isolamento do casal com o resto do mundo (mesmo que possuam amigos), utilizando de tais tomadas ainda para traçar um comentário visual quanto ao próprio arco dramático dos personagens - note como o hábito de longas caminhadas de Kate Macer ao longo do filme sugere tal comentário.
Fica evidente que numa dinâmica que parte basicamente da interação de dois personagens e o passado que as atuações são um ponto importante para o funcionamento da história, e nesse aspecto o filme não desaponta. Trazendo toda a dor de suas lembranças ou mesmo da dúvida quanto aos próprios sentimentos em pequenos gestos e na expressão profunda do olhar, Tom Courtenay faz um trabalho fabuloso ao utilizar dos bons diálogos do roteiro para nos brindar com momentos de puro brilhantismo. Como nos instantes nos quais conta sobre momentos com o antigo amor num tom misto de saudade, remorso e aceitação pelo inevitável.
Mas é mesmo Charlotte Rampling que domina todas as cenas que protagoniza deixando aflorar de sua personagem não só a experiência e o amor que sente por seu marido em tantos anos de casamento, ao passo em que também demonstra seu ciúme de uma maneira até mesmo “juvenil”. A interpretação da atriz possui um tom perfeito desde o seu início até a cena final na qual a atriz mostra o poder do puro cinema com a simples alteração gradual de sua expressão facial (e basta procurar a letra da música “Smoke Gets In Your Eyes”, do The Platters, para se ter o comentário final do filme sobre o amor através dos anos).
Exagerando no seu ritmo lento e por vezes prolixo, falta à “45 Anos” exatamente aquele toque de mestre que os filmes de Haneke possuem. Falta um pouco de garra ao filme para ser além do que um estudo de personagem bem feito. Sim, o roteiro e a direção nos fazem ficar de olho nos próximos lançamentos de Andrew Haigh, mas não é o suficiente para que o filme sobreviva intacto a outras comparações inevitáveis com grandes obras nas quais este claramente se inspirou. 





Ótimo
Por Han Solo

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