45 Anos
(45 Years)
Data de Estreia no Brasil: 29/10/2015
Direção: Andrew Haigh
Distribuição: IMOVISION
É
fácil perceber como que “45 Anos” é tão comparado com “Amor” de Michael Haneke
como uma versão leve deste. Porém, se por um lado é evidente uma inspiração dos
realizadores da projeção em retratar o cotidiano de um casal de idosos que é
abalado por um acontecimento específico (gerando no percurso um estudo delicado
sobre as relações humanas ao longo do tempo), o aparente tom “mais leve” do
atual lançamento pode soar simplista demais. Sim, enquanto a obra-prima de
Haneke era mais evidente em sua melancolia e na discussão quanto ao sentimento
que dava título ao filme, “45 Anos” adota uma abordagem mais contida e
alegórica, mas que possui também resultados interessantes.
Para
tanto a narrativa se desenrola da seguinte maneira: Kate (Charlotte Rampling) e
Geoff Macer (Tom Courtenay) estão prestes a comemorar seu aniversário de 45
anos de casamento, é quando este recebe uma carta que o informa de que o corpo
de uma ex-namorada foi encontrado congelado e preservado nas geleiras dos Alpes
Suíços. A partir deste acontecimento o filme foca na mudança de perspectiva e
conflitos internos dos personagens que acabam por refletir numa crise no
relacionamento daquele casal que está a quase cinco décadas juntos.
Escrito
e dirigido com talento pelo jovem Andrew Haigh, o filme adota um ritmo
deliberadamente lento para investigar o turbilhão emocional que aflora dos
personagens. Haigh adota uma lógica visual interessante desde seus instantes
iniciais ao enfocar sempre à distância a propriedade dos Macer, algo que
salienta um certo isolamento do casal com o resto do mundo (mesmo que possuam amigos),
utilizando de tais tomadas ainda para traçar um comentário visual quanto ao
próprio arco dramático dos personagens - note como o hábito de longas
caminhadas de Kate Macer ao longo do filme sugere tal comentário.
Fica
evidente que numa dinâmica que parte basicamente da interação de dois
personagens e o passado que as atuações são um ponto importante para o funcionamento
da história, e nesse aspecto o filme não desaponta. Trazendo toda a dor de suas
lembranças ou mesmo da dúvida quanto aos próprios sentimentos em pequenos
gestos e na expressão profunda do olhar, Tom Courtenay faz um trabalho fabuloso
ao utilizar dos bons diálogos do roteiro para nos brindar com momentos de puro
brilhantismo. Como nos instantes nos quais conta sobre momentos com o antigo
amor num tom misto de saudade, remorso e aceitação pelo inevitável.
Mas é
mesmo Charlotte Rampling que domina todas as cenas que protagoniza deixando
aflorar de sua personagem não só a experiência e o amor que sente por seu
marido em tantos anos de casamento, ao passo em que também demonstra seu ciúme de
uma maneira até mesmo “juvenil”. A interpretação da atriz possui um tom
perfeito desde o seu início até a cena final na qual a atriz mostra o poder do
puro cinema com a simples alteração gradual de sua expressão facial (e basta
procurar a letra da música “Smoke Gets In Your Eyes”, do The Platters, para se
ter o comentário final do filme sobre o amor através dos anos).
Exagerando
no seu ritmo lento e por vezes prolixo, falta à “45 Anos” exatamente aquele
toque de mestre que os filmes de Haneke possuem. Falta um pouco de garra ao
filme para ser além do que um estudo de personagem bem feito. Sim, o roteiro e
a direção nos fazem ficar de olho nos próximos lançamentos de Andrew Haigh, mas
não é o suficiente para que o filme sobreviva intacto a outras comparações
inevitáveis com grandes obras nas quais este claramente se inspirou.
Ótimo
Por Han Solo
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