quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Crítica: "Trumbo - Lista Negra"

Trumbo - Lista Negra
(Trumbo)
Biografia/Drama
Data de Estreia no Brasil: 25/11/2016
Direção: Jay Roach
Distribuidora: California Filmes

“Não me entenda mal, O Jogo da Imitação é um bom filme e que de uma forma geral funciona, mas é frustrante perceber que uma figura excepcional como Alan Turing esteja representado em um filme tão comum como este.” Estas foram as minhas palavras ao escrever sobre "O Jogo da Imitação" e foi com grande pesar que me lembrei delas ao sair da sessão de “Trumbo – Lista Negra”, sendo que este filme comete um pecado ainda maior e cheio de ironia: ao retratar com mediocridade a vida do roteirista Dalton Trumbo (que escreveu o roteiro de Spartacus, dirigido pelo mestre Stanley Kubrick) o filme não possui qualquer sinal de inspiração em sua direção e abordagem visual, e o que é pior, tendo um roteiro pedestre e simplista para narrar a vida de um roteirista famoso, talentoso e premiado.
Assim como o filme que contava a vida de Alan Turing, “Trumbo” possui um contexto sócio político extremamente interessante e relevante: Dalton Trumbo (Bryan Cranston) era um dos escritores mais respeitados de seu tempo, mas com a caça aos comunistas feita nos EUA durante a guerra fria (que se centrava na famigerada figura de Joseph McCarthy) este acabou entrando na lista negra por ser declaradamente comunista. Com dificuldades para arranjar emprego, Trumbo utilizou as mais variadas formas para burlar a lista, conseguindo não só escrever roteiros, livros e peças, como ainda ganhar prêmios por estes (mesmo que assinados por nomes diferentes).

Como pode-se notar, a figura que o filme promete retratar é um objeto fascinante para qualquer um que deseje estudá-lo a fundo... É uma pena que este pareça não ser o objetivo do filme. Em primeiro lugar, se ressaltei duas vezes dos parágrafos a cima o fato de Trumbo ter vencido prêmios por suas obras é um reflexo da própria insistência simplista e absurda do filme de retratar nomeações e “vitórias” no Oscar como parte principal da redenção do personagem principal. Ora sejamos sinceros, após ficar sem emprego, ser preso sem cometer crime algum, ser traído por antigos amigos em seus depoimentos a “justiça” e perder outros entes queridos a estatueta dourada poderia realmente representar a grande vitória deste indivíduo?
Segundo lugar, a verdade é que o roteiro escrito por John McNamara é de uma ingenuidade risível. Tratando o protagonista como uma figura plana que somente em momentos pontuais representa qualquer sinal de complexidade (abandonados pelo roteiro em questão de minutos, diga-se de passagem). A estruturação do roteiro é arrastada com passagens completamente desnecessárias que relegam a segundo plano (segundo se formos MUITO generosos) aquilo que deveria ser o eixo principal da película: desvendar a figura de Dalton Trumbo. A passagem da prisão, por exemplo, se mostra completamente equivocada e sem função alguma na narrativa, ao passo que pouco nos é mostrado em relação ao processo criativo do personagem principal, algo que no mínimo é um erro grosseiro.
Ainda assim, a atuação minimalista e cheia de detalhes de Bryan Cranston quase consegue vender que o filme está fazendo sua parte ao retratar o dia-a-dia do escritor. Ator extremamente talentoso e com uma presença de cena invejável, Cranston se esforça muito para tentar tirar complexidade onde o roteiro não oferece, fazendo com que aos poucos nos esqueçamos de que ali está o famoso ator de "Breaking Bad". Porém, não estou certo de que sua indicação ao Oscar seja realmente válida por não se mostrar a cima da média tanto para o próprio ator, quanto para seus companheiros de trabalho.
De qualquer maneira, talvez a sua indicação se dê pelo fato do ator se destacar em meio a tantas composições caricatas de seus parceiros de cena. Se Hellen Mirren não faz mais do que imitar Hedda Hopper, o John Wayne de David James Elliott é uma caricatura absurda que não lembra em nada o famoso ator de westerns. Mas ainda assim, a pior aparição vai mesmo para Dean O’Gorman como Kirk Douglas que, seja pela atuação digna de zorra total ou pela maquiagem desastrosa, gerou em mim ataques de risos toda vezes que o ator aparecia em cena, algo que poderia quebrar o clima de tensão do filme, se ao menos houvesse um.
Assim, me sinto na obrigação de destacar que por mais que possua milhões de defeitos, “Trumbo – Lista Negra” não é um filme ruim de assistir. Por mais que se mostre arrastado e com atuações preguiçosas, o filme possui assuntos e reconstituições de fatos que são extremamente interessantes para os amantes da história, do cinema ou mesmo da história do cinema. Mas é mesmo uma pena que, por eu me enquadrar em tais categorias, eu não possa dizer com certeza de que o filme se mostrará uma experiência satisfatória para o público em geral, já que sua linguagem de telefilme criada na abordagem de direção de Jay Roach coloca o filme na categoria mais difícil de se descrever para um crítico: o filme “meh”.
Trazendo sacadas interessantes nos diálogos que sempre parecem citações literárias ou frases de efeito de filmes (algo que casa bem com o desempenho astuto de Cranston), o filme a todo momento lhe apresenta boas intenções executadas de maneira inexpressiva e totalmente esquecível, algo imperdoável para um assunto tão importante. Mesmo o personagem de Louis C. K. representa o único ponto de complexidade genuíno do filme, trazendo a tona a luta interna do indivíduo fiel a suas convicções políticas e que aos poucos se mostra cada vez mais revoltado, e amedrontado, pelo meio hostil da sociedade.
Talvez se o filme tivesse desenvolvido tais características em Dalton Trumbo melhor, fazendo com que a convivência familiar do escritor fosse melhor explorada aos poucos, concedendo ainda tempo para mostrar a essência da paranoia política contra esquerda que ainda hoje se mostra absurda e cotidiana, indo além para conceder reais momentos de drama e complexidade, contando ainda com uma direção mais inspirada que tornaria o filme uma obra de entretenimento melhor. Mas né...

“MEH”...






Regular
Por Han Solo

Nenhum comentário:

Postar um comentário