Trumbo - Lista Negra
(Trumbo)
Biografia/Drama
Data de Estreia no Brasil: 25/11/2016
Direção: Jay Roach
Distribuidora: California Filmes
“Não me entenda mal, O Jogo
da Imitação é um bom filme e que de uma forma geral funciona, mas é frustrante
perceber que uma figura excepcional como Alan Turing esteja representado em um
filme tão comum como este.” Estas foram as minhas palavras ao escrever
sobre "O Jogo da Imitação" e foi com grande pesar que me lembrei delas ao sair da
sessão de “Trumbo – Lista Negra”, sendo que este filme comete um pecado ainda
maior e cheio de ironia: ao retratar com mediocridade a vida do roteirista
Dalton Trumbo (que escreveu o roteiro de Spartacus, dirigido pelo mestre
Stanley Kubrick) o filme não possui qualquer sinal de inspiração em sua direção
e abordagem visual, e o que é pior, tendo um roteiro pedestre e simplista para
narrar a vida de um roteirista famoso, talentoso e premiado.
Assim
como o filme que contava a vida de Alan Turing, “Trumbo” possui um contexto
sócio político extremamente interessante e relevante: Dalton Trumbo (Bryan Cranston)
era um dos escritores mais respeitados de seu tempo, mas com a caça aos
comunistas feita nos EUA durante a guerra fria (que se centrava na famigerada
figura de Joseph McCarthy) este acabou entrando na lista negra por ser
declaradamente comunista. Com dificuldades para arranjar emprego, Trumbo utilizou
as mais variadas formas para burlar a lista, conseguindo não só escrever
roteiros, livros e peças, como ainda ganhar prêmios por estes (mesmo que
assinados por nomes diferentes).
Como
pode-se notar, a figura que o filme promete retratar é um objeto fascinante
para qualquer um que deseje estudá-lo a fundo... É uma pena que este pareça não
ser o objetivo do filme. Em primeiro lugar, se ressaltei duas vezes dos
parágrafos a cima o fato de Trumbo ter vencido prêmios por suas obras é um
reflexo da própria insistência simplista e absurda do filme de retratar
nomeações e “vitórias” no Oscar como parte principal da redenção do personagem
principal. Ora sejamos sinceros, após ficar sem emprego, ser preso sem cometer
crime algum, ser traído por antigos amigos em seus depoimentos a “justiça” e
perder outros entes queridos a estatueta dourada poderia realmente representar
a grande vitória deste indivíduo?
Segundo lugar, a verdade é que o roteiro escrito por John McNamara é de uma ingenuidade risível.
Tratando o protagonista como uma figura plana que somente em momentos pontuais
representa qualquer sinal de complexidade (abandonados pelo roteiro em questão
de minutos, diga-se de passagem). A estruturação do roteiro é arrastada com
passagens completamente desnecessárias que relegam a segundo plano (segundo se
formos MUITO generosos) aquilo que deveria ser o eixo principal da película:
desvendar a figura de Dalton Trumbo. A passagem da prisão, por exemplo, se
mostra completamente equivocada e sem função alguma na narrativa, ao passo que
pouco nos é mostrado em relação ao processo criativo do personagem principal,
algo que no mínimo é um erro grosseiro.
Ainda
assim, a atuação minimalista e cheia de detalhes de Bryan Cranston quase
consegue vender que o filme está fazendo sua parte ao retratar o dia-a-dia do
escritor. Ator extremamente talentoso e com uma presença de cena invejável,
Cranston se esforça muito para tentar tirar complexidade onde o roteiro não
oferece, fazendo com que aos poucos nos esqueçamos de que ali está o famoso
ator de "Breaking Bad". Porém, não estou certo de que sua indicação ao Oscar seja
realmente válida por não se mostrar a cima da média tanto para o próprio ator,
quanto para seus companheiros de trabalho.
De
qualquer maneira, talvez a sua indicação se dê pelo fato do ator se destacar em
meio a tantas composições caricatas de seus parceiros de cena. Se Hellen Mirren
não faz mais do que imitar Hedda Hopper, o John Wayne de David James Elliott é
uma caricatura absurda que não lembra em nada o famoso ator de westerns. Mas ainda
assim, a pior aparição vai mesmo para Dean O’Gorman como Kirk Douglas que, seja
pela atuação digna de zorra total ou pela maquiagem desastrosa, gerou em mim
ataques de risos toda vezes que o ator aparecia em cena, algo que poderia
quebrar o clima de tensão do filme, se ao menos houvesse um.
Assim,
me sinto na obrigação de destacar que por mais que possua milhões de defeitos, “Trumbo
– Lista Negra” não é um filme ruim de assistir. Por mais que se mostre
arrastado e com atuações preguiçosas, o filme possui assuntos e reconstituições
de fatos que são extremamente interessantes para os amantes da história, do
cinema ou mesmo da história do cinema. Mas é mesmo uma pena que, por eu me
enquadrar em tais categorias, eu não possa dizer com certeza de que o filme se
mostrará uma experiência satisfatória para o público em geral, já que sua
linguagem de telefilme criada na abordagem de direção de Jay Roach coloca o
filme na categoria mais difícil de se descrever para um crítico: o filme “meh”.
Trazendo
sacadas interessantes nos diálogos que sempre parecem citações literárias ou
frases de efeito de filmes (algo que casa bem com o desempenho astuto de
Cranston), o filme a todo momento lhe apresenta boas intenções executadas de
maneira inexpressiva e totalmente esquecível, algo imperdoável para um assunto
tão importante. Mesmo o personagem de Louis C. K. representa o único ponto de
complexidade genuíno do filme, trazendo a tona a luta interna do indivíduo fiel
a suas convicções políticas e que aos poucos se mostra cada vez mais revoltado,
e amedrontado, pelo meio hostil da sociedade.
Talvez
se o filme tivesse desenvolvido tais características em Dalton Trumbo melhor,
fazendo com que a convivência familiar do escritor fosse melhor explorada aos
poucos, concedendo ainda tempo para mostrar a essência da paranoia política
contra esquerda que ainda hoje se mostra absurda e cotidiana, indo além para
conceder reais momentos de drama e complexidade, contando ainda com uma direção
mais inspirada que tornaria o filme uma obra de entretenimento melhor. Mas né...
“MEH”...
Regular
Por Han Solo
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