sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Crítica: "What Happened, Miss Simone?"

What Happened, Miss Simone?
Data de Estréia no Brasil: 24/06/2015
Direção: Liz Garbus
Distribuição: Netflix


          Ao assistir ao trailer de "What Happened, Miss Simone?" é possível perceber facilmente o maior ponto positivo do documentário: seu foco é o indivíduo, não a artista. Ao começar a história de Miss Simone identificando-a como a jovem Eunice Waymon, a diretora Liz Garbus deixa claro sua ousada pretensão: misturar elementos dos gêneros documentário e biografia na tentativa de conter em uma narrativa o maior número possível de elementos sobre a vida de Nina Simone. Ao evitar focar em apenas um aspecto de sua vida, como por exemplo sua carreira ou seu envolvimento com a luta pelos direitos civis, "Miss Simone" se abre para interessantíssimas possibilidades de estudo de personagem. Porém é essa tentativa de englobar tudo também responsável pelas principais falhas do filme.

            Extremamente bem montado com entrevistas, filmagens de shows e fotos, "Miss Simone" consegue algo raro para um documentário: a imersão quase total. Muitas vezes o sentimento é de acompanhar uma reconstituição da vida da cantora feita através de um drama biográfico. Trechos de entrevistas de Miss Simone são muito importantes para dar voz à personagem, expor em tela de maneira justa seus ideais. As entrevistas feitas com pessoas próximas também servem este propósito de melhor descrever a personalidade da artista.
          Estes dois elementos de entrevistas são muito bem utilizados para criar uma espécie de "intimidade" (no limite do possível) entre Miss Simone e o público a quem sua história está sendo contada. Esta corajosa escolha da diretora Liz Garbus é certamente o maior acerto do filme, pois evita aquele tipo de distância respeitosa muito comum entre um documentário e o sujeito que procura retratar. Isso também não significa que "Miss Simone" em algum momento julgue as escolhas e atitudes de Nina, deixando isto por conta de quem está assistindo. Utilizando-se de vários pontos de vista diferentes e muitas vezes conflitantes, fornecidos pela própria Simone e pelas entrevistas de pessoas próximas, o documentário retrata uma pessoa cheia de defeitos e incertezas, mas com um talento incomparável. Sua excepcionalidade como cantora era proporcional à sua complexidade como indivíduo, algo devidamente explorado pelo filme.
            O principal problema de "Miss Simone" está em seu ritmo. Na tentativa de abordar todos os aspectos da vida da artista o documentário abre mão de um foco principal, algo que possa retomar e manter-se orbitando em volta. A duração do filme (aproximadamente 1h40) é muito sobrecarregada pela complexidade dos temas abordados, fazendo com que coisas extremamente importantes, como por exemplo a violência doméstica que Simone sofria de seu marido, fiquem mal desenvolvidas. A brusca variação de temas também prejudicam a construção de um ritmo e um tom bem definidos.
           Porém, estes defeitos não são o suficiente para prejudicar "Miss Simone" em seus momentos de puro brilhantismo. Quando remonta a trama do envolvimento de Nina Simone com a luta pelos direitos civis dos negros nos anos 60 o documentário tem seus melhores momentos. É absolutamente impossível não se sentir comovido pela imensa força de vontade por lutar e fazer a diferença que Miss Simone expunha em suas músicas de cunho político, principalmente "Mississipi Goddamn". "Miss Simone" mostra o poder de uma talentosíssima cantora de exprimir em sua arte o pensamento coletivo de milhões de pessoas que se ergueram contra a segregação e o racismo. Estes momentos por si só já fazem valer a pena assistir a este ótimo documentário, um dos favoritos a levar o Oscar em sua categoria.






Ótimo
Por Obi-Wan

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