quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Crítica - "O Regresso"

O Regresso
(The Revenant)
Data de Estreia no Brasil: 04/02/2016
Direção: Alejandro G. Iñárritu
Distribuição: Twentieth Century Fox Film Corporation


      Com incríveis 12 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e melhor diretor, é natural que a estreia de "O Regresso" no Brasil seja cercada de enorme expectativa. Com a fortíssima presença de Leonardo DiCaprio como protagonista do filme (favorito a levar a estatueta de melhor ator) "O Regresso" acompanha a jornada de Hugh Glass, um guarda de fronteira em uma expedição de caça de peles nos anos 1820. Enquanto caçava Glass é atacado por um urso (não se preocupem, isso não é um spoiler, acontece nos primeiros minutos de filme) e gravemente ferido acaba sendo deixado para morrer por seus companheiros. A partir disso, a frágil vida de Glass se resume a sobreviver e ir em busca daqueles que o traíram.

       A partir desta breve sinopse já é possível delinear as principais temáticas de "O Regresso". Em uma primeira análise, o destaque maior é a arquetípica história de vingança, que acompanha o personagem principal sendo primeiramente traído e depois traçando sua jornada em busca dos responsáveis por seu sofrimento. Porém, ao longo do filme percebe-se aos poucos que o roteiro se desenvolve apontando para um aspecto principal: a sobrevivência. O cenário em si é tão protagonista de "O Regresso" quanto o próprio Leonardo DiCaprio, a todo momento interagindo com os demais personagens e influenciando diretamente em suas escolhas. O filme faz um trabalho interessantíssimo em mostrar que o clima rejeita violentamente a existência da vida humana. Em condições precárias, cada respiração é duramente conquistada.
          Justamente por conta da importância do cenário, o maior destaque de "O Regresso" é sem dúvidas seu aspecto visual e sonoro. É impressionante o que o filme conquista ao recriar de maneira perfeita um sentimento de se estar presente em um ambiente inóspito, capaz de matar qualquer um a qualquer instante. Nesse sentido, a escolha de Iñárritu de filmar "O Regresso" sem a utilização de nenhuma iluminação artificial não é de maneira alguma um tipo de exibicionismo por parte do diretor, mas uma decisão extremamente acertada e crucial para criar a imersão do público no filme e estabelecer um sentido rústico e brutal na natureza que retrata. Além disso a cinematografia de Emmanuel Lubezki é absolutamente brilhante, criando algumas das cenas mais belas e memoráveis de 2015. Iñárritu também se destaca e faz por merecer sua indicação ao Oscar, conseguindo retratar de maneira muito capaz as difíceis e rápidas cenas de ação do filme, além de optar por enquadramentos de câmera que incentivam a imersão com a história e a empatia com os personagens.
         Quanto ao roteiro, o desenvolvimento dos personagens é o maior destaque de "O Regresso". Aliado a grandes atuações por parte dos protagonistas, o roteiro do filme estabelece e desenvolve excelentes personagens, de maneira alguma unilaterais. O vilão John Fitzgerald é interpretado com extrema destreza por Tom Hardy, que consegue criar um personagem ao mesmo tempo odiável e compreensível. Suas ações no filme não deixam de ser moralmente questionáveis, mas suas motivações são suficientemente bem estabelecidas para que seus atos não soem totalmente arbitrários. Já Leonardo DiCaprio justifica seu status como um dos maiores atores da atualidade, conseguindo carregar cenas inteiras sem dizer uma única palavra. A atuação corporal do ator é praticamente perfeita, conseguindo transmitir emoções complexas com simples expressões faciais. DiCaprio é tem sucesso ao encarar a difícil tarefa de levar o público através de sua jornada de sofrimento e luta pela sobrevivência, fazendo com que a motivação do personagem não soe fraca ou injustificada.
          Dentro do aspecto de personagens complexos, "O Regresso" tem ainda uma das mais justas retratações dos grupos indígenas norte-americanos. O mais interessante é que o filme não retrata os indígenas como se fizessem parte da natureza, como se fossem selvagens tão indomados e violentos quanto o próprio ambiente que os cerca. Assim como os americanos e franceses retratados no filme, os grupos indígenas lutam para sobreviver ante o clima inóspito e tem motivações bem estabelecidas. Os três grupos tem motivos para temer um ao outro, sem que a violência dos indígenas frente aos outros dois seja deliberada ou gratuita. Além disso, o envolvimento de Glass com uma indígena é muito bem desenvolvido e explorado pelo roteiro.
        Apesar de muito bem escrito, o roteiro de "O Regresso" apresenta sim algumas falhas. Algumas das dificuldades ultrapassadas por Glass são muito exageradas, estragando um pouco a imersão que havia sido cultivada com tanto cuidado. Não espere grandes surpresas de "O Regresso", esse não é o objetivo do filme. Utilizando-se da já conhecida mas nunca cansativa fórmula da vingança, o filme movimenta sua trama e explora seus personagens. Visualmente equiparável a "Mad Max: Estrada da Fúria, "O Regresso" fez por merecer todas as suas 12 indicações e é construído para ser experienciado em uma sala de cinema, capaz de aproveitar tudo o que o filme tem a oferecer no sentido sonoro e visual. Algumas pequenas falhas de roteiro não diminuem em nada a incrível experiência cinematográfica trazida por "O Regresso", certamente um dos melhores filmes do ano.


Excelente
Por Obi-Wan

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