domingo, 29 de janeiro de 2017

Crítica: "Até o Último Homem"

Até o Último Homem
(Hacksaw Ridge)
Biografia/Guerra/Drama
Data de Estreia no Brasil: 26/01/2017
Direção: Mel Gibson
Distribuição: Diamond Films



Recentemente, ao escrever sobre o filme “Estrelas Além do Tempo” argumentei que este era um filme que possuía uma boa estória, mas que contava com uma direção e roteiro problemáticos, o que tornava o filme uma oportunidade desperdiçada. Pois parte disso também ocorre com este “Até o Último Homem”, já que o roteiro trata de forma irregular a excelente história real de Desmond T. Doss, um pacifista e Opositor Consciente que se alistou na segunda guerra mundial visando trabalhar como médico nos campos de batalha, negando-se a encostar em armas ou matar qualquer indivíduo. A diferença entre os dois longas é que este conta com um excelente contador de estórias na direção, Mel Gibson, que embora seja um ser humano desprezível ainda assim é um diretor talentoso.

         Assim, a abordagem de Gibson se divide claramente em duas perspectivas: uma bem mais contida no início da projeção e outra visceral e intensa na segunda metade do filme. A primeira metade é comandada pelo diretor num tom romântico e menos intenso ao abordar a construção do psicológico de Doss desde a infância até o momento em que resolve se alistar no exército e desafiar seus superiores por se recusar empunhar uma arma, o filme aposta assim nas relações pessoais que o personagem desenvolve com seu pai (Hugo Waeving), um ex-soldado que lutou na primeira guerra, e com sua namorada Dorothy Schutte (Teresa Palmer), algo que funciona justamente pela relação doce que Doss tem com Dorothy e a precária que este apresenta com seu pai - este, ainda, é um indivíduo interessante que o longa sabe retratar bem em sua melancolia como um soldado que já presenciou os horrores da guerra, é alcoólatra e hoje vê seus dois filhos se alistando para o combate.
         Mas quando chegamos na segunda metade da projeção, Gibson faz questão de nos jogar no meio do campo de batalha e mostrar a brutalidade da guerra de maneira extremamente gráfica (algo que só havia presenciado nessa escala em “O Resgate do Soldado Ryan”), trazendo a violência como uma extensão clara do caos que se instaura na guerra. Isso pode soar estranho a principio quando lembramos que se trata de um filme sobre um pacifista, porém a violência funciona justamente para nos deixar alerta quanto aos perigos que Doss enfrenta ao se manter firme em suas convicções e se recusar a matar qualquer ser humano. Cria-se assim um senso de urgência já que fica claro a todo o momento o quão perigosa a situação é.
         Dessa forma, a empatia que devemos sentir por Doss é fundamental, e está completamente transposta na atuação de Andrew Garfield no papel principal, com o ator sabendo trazer humanidade e complexidade para um personagem que passa o filme todo apenas reafirmando suas convicções (e um dos claros defeitos do longa é jamais criar alguma situação real que coloque o protagonista na parede e o faça decidir entre pegar em uma arma ou sobreviver). Garfiel é hábil ainda em esboçar a religiosidade de Doss de maneira extremamente sensível, criando um personagem que nos convence de sua composição física como capaz de salvar alguém (mesmo sendo muito magro), ainda que consiga soar frágil quando necessário. Ainda, o filme conta com pontas eficientes de Sam Worthington e Vince Vaughn, sendo mesmo Hugo Weaving quem consegue desempenhar os melhores momentos dramáticos dos coadjuvantes.
         Contudo, se cito este destaque na atuação de Weaving, em questão de roteiro vários destes momentos são recheados de frases de efeito, resoluções clichês e desenvolvimentos maniqueístas. Um belo exemplo disso é uma determinada cena de uma corte marcial que cria um obstáculo artificial na narrativa, como se já não pudéssemos prever qual seria o desfecho de toda a sequencia. Além disso, o filme peca em sua construção de guerra numa abordagem unilateral de “Bem Vs Mal”, com Doss sendo o símbolo de humanidade ao salvar soldados inclusive do lado inimigo. A questão aqui é que estes elementos muitas vezes funcionam no ato de contar a história, o que não os torna muito menos temerários.
          Contando com aspectos técnicos quase que impecáveis (e se digo quase o motivo se deve pelos navios e canhões claramente construídos por CGI), “Até o Último Homem” conta com um Designe de Som impressionante em sua complexidade no campo de batalha, conseguindo criar a impressão de uma profunda imersão do espectador naquele ambiente, com a sobreposição de tiros, gritos, conversas, passos, etc, fluindo com o controle da mise en scène que o diretor apresenta para criar um sentimento de caos nas sequencias de batalha, ainda que tudo seja claramente calculado. A montagem, por outro lado, já auxilia o filme a dar fluidez para a narrativa, conseguindo criar um ritmo interessante nas sequencias de ação, ainda que a sua primeira hora seja claramente mais lenta do que o recomendado.
        Porém, dentre tantos destaques positivos, talvez o maior defeito do longa seja percebermos como Doss não é retratado como um ser-humano de falhas (ainda que existam tentações, estas estão presas ao passado do personagem), e é justamente a direção de Gibson e a atuação perfeita de Garfield que escondem este tipo de problema. O longa, assim, pode até não ser perfeito, mas sabe muito bem como realçar suas qualidades para que consiga maquiar seus tropeços.





Ótimo
Por Han Solo

Um comentário:

  1. Recomendaram-me este filme e realmente é muito interessante. Quando leio que um filme será baseado em fatos reais, automaticamente chama a minha atenção, adoro ver como os adaptam para a tela grande, acho que são as melhores historias, porque não necessita da ficção para fazer uma boa produção. Gostei muito de Até o último homem, não conhecia a história e realmente gostei, acho que é um dos melhores Andrew Garfield filmes é muito bom! É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia, achei um filme ideal para se divertir e descansar do louco ritmo da semana.

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