(La La Land)
Musical/Romance/Comédia
Data de Estreia no Brasil: 12/01/2017
Direção: Damien Chazelle
Distribuidora: Paris Filmes
Mia e Sebastian (Emma Stone e Ryan
Gosling) são o resumo do motivo pelo qual este “La La Land” funciona tão bem:
ela é uma aspirante a atriz que se mudou para Hollywood em busca do sucesso,
ele é um músico fanático por Jazz que sonha em abrir seu próprio clube do gênero (o que
faz com que um musical seja o palco perfeito para a suas histórias, já
que se mostra a junção musicista de um com o sonho cinematográfico de outro), juntos
dividem sonhos e receios quanto ao sucesso almejado, o que poderia fatalmente
ser desenvolvido de forma clichê e pouco cuidadosa. Mas basta você assistir aos
primeiros minutos de projeção para saber que este não é um musical genérico, na
verdade, o plano sequencia inicial do longa não só é uma realização magistral
em termos visuais, como ainda funciona como uma dica perfeita dos caminhos que
o filme pretende traçar.
Balanceando de maneira perfeita o
exagero dramático dos musicais (que, à grosso modo, é um gênero sobre pessoas com
sentimentos tão intenso que precisam dar vazão a estes por meio da música) e
uma mensagem de certa forma realista e agridoce, o mais novo trabalho de
Damien Chazelle (do espetacular Whiplash) como roteirista e diretor é um primor de inventividade. Os diálogos são bem escritos
e contagiantes em seu senso de humor leve e a estrutura do roteiro
aproveita cada informação dada ao longo do filme para reutilizar mais adiante nem
que seja numa passagem pequena, já a narrativa é comanda por Chazelle com
energia pura, com o jovem diretor adotando longos takes em sua
abordagem, numa clara alusão aos trabalhos clássicos de Hollywood – uma alusão
salientada pelo uso de fades in e out circulares, o letreiro de “The End” ao
fim da projeção ou mesmo a mensagem de CinemaScope no inicio do longa são
outros sinais do diretor se divertindo em seu trabalho.
Aliás, tal decisão em filmar em
CinemaScope é certeira por parte do diretor de fotografia Linus Sandgren, que
ainda é inteligente em suas composições sensíveis em suas imagens - e a maneira
com que a cinematografia captura a luz do sol se ponto no horizonte na
sequencia musical de “A Lovely Night” é
impressionante em sua beleza -, Sandgren lança mão de um controle absoluto das sequencias em contra-luz ou de ambientes iluminados por uma luz neon. A
fotografia é perfeita ainda em sua atmosfera ensolarada, já que passa um
sentimento de conforto e “aquecimento” que salientam um ar de esperança ou, quando
necessário, melancólico, manipulando de maneira perfeita uma dramatização do
ambiente ao gradualmente apagar ou ascender as luzes.
O trabalho de cinematografia relaciona-se muito bem com a paleta de cores que são utilizadas nos mais diversos aspectos
da produção, seja pelos ambientes grandiosos e exagerados (que mostram um
trabalho interessante da direção de arte ao construir um ambiente da Hollywood clássica com
tecnologia do século XXI) ou mesmo pelo figurino que privilegia o uso de
cores básicas em tonalidades fortes, principalmente no início da estória, já que
quando os conflitos principais do filme vão se instaurando as cores tomam um
caráter mais sóbrio ou mesmo enfraquecido (num uso do bege, cores básicas em tons mais
claros, cinza, etc...). Ainda, tais transições do figurino podem ser conferidas
como um reflexo do arco dos personagens, basta comparar a primeira cena do
casal principal com a última do filme para se ver um toque até de
amadurecimento por parte dos indivíduos.
E já que falei pela segunda vez do
casal principal, deixe-me assegurar que são eles o coração deste longa graças
as atuações perfeitas de todos os envolvidos. Se a participação do músico John
Legend é extremamente operante e a ponta de J.K.Simpsom funciona quase que
como uma referência ao longa anterior de Chazelle, Ryan Gosling se mostra mais
uma vez um dos atores mais versáteis e carismáticos no cinema atualmente.
Compondo Sebastiam com um traço de arrogância e empolgação quanto a sua paixão
pelo Jazz, Gosling consegue ainda demonstrar um domínio na habilidade de
dançar, realizar números de sapateado ou mesmo ao tocar piano (o que o ator aprendeu de verdade para
o filme). A atuação de Emma Stone, por outro lado, é cheia de nuances acerca da
personalidade insegura e ambiciosas de Mia, carregando os maiores momentos
dramáticos do longa – E não é a toa que basta um único olhar trocado entre
ambos em certo ponto da narrativa para que percebamos uma infinidade de emoções
ainda que nenhuma palavra seja dita.
Mas estamos falando de um musical
afinal de contas, assim, um dos principais elementos eu engrandecem a estória
são mesmo as melodias e letras utilizadas na produção, que não só comentam perfeitamente
bem as cenas, como ainda funcionam como
um elemento narrativo perfeito para as atitudes dos personagens. Note, por
exemplo, como ao surgir cada vez mais percalços e empecilhos conflituosos no
filme a música parece ficar cada vez mais escassa (já que esta é a exaltação dos sentimentos mais intensos de felicidade no início da projeção), com
Chazelle incluindo um plano detalhe que mostra a música parando de tocar num
disco de vinil no exato momento em que ocorre um ponto de virada na estória,
assim como a cena na qual os personagens flutuam entre as estrelas de um
observatório, numa representação perfeita de exacerbação de uma leveza que o amor dá aos dois - Algo que me remeteu ao belo "Todos Dizem Eu Te Amo" de Woody Allen.
E é nesses detalhes dramáticos que “La
La Land” se torna um grande filme, sendo uma obra que retrata com perfeição as
frustrações e esperanças na busca por nossos sonhos mais profundos, bem
como os sacrifícios que temos de fazer para conquistar algo que julgamos por
vezes inalcançável. “La La Land – Cantando Estações” merece destaque, ainda, por
ser uma construção elegante e enérgica em sua releitura nostálgica mais do que
necessária para um gênero que há anos estava parado ou relegado à mediocridade, mas que agora recebe um de seus melhores exemplares que faz justiça aos filmes que homenageia.
Por Han Solo
Excelente
Adorei esse filme, muito delicado! O filme abre com uma impressionante sequência em uma rodovia em direção a Los Angeles. La La Land é um filme essencialmente sensorial. A história é quase uma desculpa para reconstruir a magia dos musicais. Ryan Gosling (Ryan do óptimo Blade Runner 2049 ) e Emma Stone tornam toda essa construção fluida, ambos desempenhando um dos melhores papeis de suas carreiras. Não só através de suas movimentações nas quais cada passada parece ter sido milimetricamente estudada, tornando até o flutuar algo orgânico, como na forma que se entregam a seus personagens. Mesmo nos silêncios conseguimos sentir ambos, de tal maneira que ganham vida diante de nossos olhos, nos fazendo sentir suas dores, alegrias, tornando seus sonhos os nossos. Acompanhar esse casal é se deixar entregar a uma espiral de emoções, que nos remetem aquele grande amor que todos vivemos. A música ainda faz o máximo para aproveitar a voz de ambos, levando em conta suas limitações, sem exagerar ao ponto de pedir mais do que eles poderiam realizar.
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