domingo, 15 de janeiro de 2017

Crítica: "Morris From America"

Morris From America
Data de Estreia no Brasil: sem previsão
Direção: Chad Hartigan
Distribuição: A24


Filmes sobre o amadurecimento e auto-descoberta de crianças e adolescentes são uma constante no cinema norte-americano, vide grandes clássicos como “Conta Comigo” (1986) e “E.T.” (1982), e o mais recente e ótimo “Melhores Amigos” (2016). Seguindo nesta toada “Morris From America” tem como personagem principal um jovem nova iorquino de 13 anos que se muda para uma pequena cidade da Alemanha com seu pai. Além do recente falecimento de sua mãe, Morris lida com outras delicadas questões, como as constantes viagens de seu pai e a dificuldade de tornar compatíveis seus hábitos e gostos oriundos da cultura negra norte-americana com os costumes e a vivência dos jovens de Heidelberg. Complexificando uma situação já complicada, Morris se apaixona por Mikaela, uma garota local 2 anos mais velha que ele e com uma vivência completamente diferente da sua.

Levando em conta sua premissa, “Morris From America” poderia facilmente ser um drama, explorando não só as dificuldades de adaptação de Morris como uma palpável tensão racial existente na Alemanha. Isso não significa que o filme desperdice a oportunidade de tecer tais comentários (o fazendo inclusive de forma extremamente competente) e que não haja uma convincente dramaticidade na vida de Morris, principalmente na relação com seu pai. No entanto, o filme escrito e dirigido por Chad Hartigan opta por adotar um tom que pende mais para o agridoce e é muito compatível com sua estrutura narrativa. Dessa forma, "Morris" consegue equilibrar bem momentos leves com outros dramáticos, que se beneficiam mutuamente desta ambivalência para destacar-se em relação ao momento anterior. O efeito disso é desarmar o público, que não sabe o que esperar da narrativa e se surpreende com seu desenvolvimento, indo do riso à consternação e profunda empatia com os personagens em meros segundos.
A sublime atuação de Craig Robinson em “Morris From America” fez com que o filme tenha sido relembrado por muitos nesta atual temporada de premiações. Dessa forma, o ator acabou tornando-se uma espécie de símbolo para o filme com seu coadjuvante que acaba por roubar a cena. De fato, a complexa personalidade que Robinson compôs para seu Curtis representa muito do que é o próprio filme, uma vez ele preocupa-se constantemente com Morris sem perder o bom humor e a forma carinhosa e brincalhona com que lida com seu filho. Podemos ver claramente no semblante de Curtis o peso da viuvez e da responsabilidade de lidar com uma criança crescendo em um ambiente que lhe é hostil, mesmo quando o mesmo esforça-se para imprimir uma leveza em suas broncas e tranquilizar Morris. Robinson já havia demonstrado sua capacidade na mais recente temporada de “Mr. Robot” e merece pelo menos ser considerado pela Academia para uma nomeação este ano.
O ator beneficia-se também dos excelentes diálogos que o roteiro lhe proporciona para estruturar seu personagem. A relação entre pai e filho criada por Chad Hartigan é extremamente convincente, com uma série de conversas memoráveis que exprimem a tentativa de um pai em criar seu filho da melhor forma possível sem perder sua amizade. O complexo balanço entre autoridade e companheirismo inerente à paternidade é um dos assuntos mais bem explorados pelo longa. Destaque deve ser dado também ao restante do elenco, principalmente ao carismático Markees Christmas (Morris), capaz de encantar o público com seu jeito muito próprio, sem perder de vista a dramaticidade de sua delicada situação. Gosto muito também das coadjuvantes Katrin (Lina Keller) e a tutora de alemão Inka (Carla Juri), que conseguem escapar da função de meros elementos da construção do personagem de Morris para constituírem personagens com um arco dramático e uma nuance própria.
Esta é aliás uma das principais virtudes de “Morris From America”: as decisões tomadas por seus personagens nunca parecem ditadas por um roteirista, mas desdobramentos lógicos das personalidades e momentos de tais pessoas. A competente direção de Hartigan contribui muito para naturalizar a história que o filme pretende contar, conseguindo obter uma relação de muita proximidade entre sua narrativa e a empatia do público. A trilha sonora do filme merece também seu destaque, com melodias e letras do hip hop que combinam e potencializam a mensagem que o filme pretende trazer. Discutindo temas complexos como o racismo, a puberdade, paternidade, o amor e a perda de alguém próximo, “Morris From America” tem uma dose mais do que suficiente de originalidade para tornar-se uma memorável adição na categoria de filmes sobre o amadurecimento e figurar na lista dos melhores filmes de 2016.

Excelente

Por Obi-Wan

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