(Hidden Figures)
Drama/Biografia
Data de Estreia no Brasil: 02/02/2017
Direção: Theodore Melfi
Distribuidora: Fox Film do Brasil
“Estrelas Além do Tempo”... Um nome brega em sua
tentativa de fazer uma alusão ao significado do título original, “Hidden
Figures” (que em tradução livre se tornaria “figuras escondidas”). E isso não é
a toa, já que este nome original mostra a importância da história que está
sendo contada e como esta foi escondida ao longo do tempo. Temos aqui três
mulheres negras que trabalharam para a NASA e que foram cruciais para o
desenvolvimento da mesma na chamada “Corrida Espacial”. O filme, assim, se
sustenta em sua importância temática, mas fica claro ao longo da narrativa que
era necessário um contador de histórias melhor, já que o filme se estabelece como um “Feel Good Movie” sem nem sempre conseguir desenvolver seu tom em consonância com a estória que quer contar.
Parte dos problemas do longa já se encontram no
roteiro, que possui uma primeira metade muito inferior a segunda, com o filme
apostando em certos desenvolvimentos familiares completamente dispensáveis - como
todo o seguimento amoroso envolvendo o personagem de Mahershala Ali, que só
funciona minimamente pela performance carismática do ator. Ainda, ao
desenvolver certos temas da estória o roteiro peca ao centralizar seus
argumentos em figuras antagonistas pouco desenvolvidas, o que fica claro na
participação de Kirsten Dunst no filme, já que o longa acaba afunilando todo um
problema sistêmico num único indivíduo – e a abordagem funciona muito melhor
com o engenheiro interpretado por Jim Parson, já que conseguimos situar um
mínimo de um arco dramático, ainda que previsível.
Porém, ainda que conte com todos estes problemas
no roteiro é impossível deixar de se envolver com os dramas de nossas
personagens, já que o longa é hábil ao conseguir estabelecer a dinâmica das
três protagonistas, sendo esta perfeitamente apresentada desde os primeiros momentos
em que elas estão juntas em cena. Assim, vivemos intensamente cada momento da vida delas
que é retratado (por mais difíceis, belos, ou mesmo por vezes artificiais que
eles sejam), desde a força e perseverança de Dorothy Vaughan (bem realçado por
Octavia Spencer), até mesmo o misto de insegurança e obstinação de Mary Jackson
(Janelle Monae), as características individuais delas são tratados com importância pelo filme, que busca realçar a empatia a partir de situações individuais das personagens.
A atuação principal de Taraji P. Henson, como Katherine
Johnson, é um exemplo perfeito de como o filme funciona plenamente em sua proposta
de mostras o crescimento profissional das personagens, já que Henson é capaz de
evocar uma sensibilidade para Katherine Johnson até mesmo quando esta parece se
perder em um mundo de cálculos matemáticos. O que ainda auxilia uma perspectiva
de crescimento dos indivíduos no filme é a decisão inteligente em elencar
discussões sexistas e racistas em paralelo com a sua estória (e assim, vemos
protestos pelos direitos civis dos negros, imagens de arquivo de Martin Luther
King, ou mesmo vemos um determinado personagem soltar comentários machistas de
maneira banal). Esta abordagem engrandece o filme, ainda que o debate de
determinados elementos seja simplificado em prol de um ar de leveza à narrativa.
Isso, contudo, é quase que completamente sabotado
pela direção irregular de Theodore Melfi, sendo triste constatar como há um
momento no filme que é comandado com maestria pelo diretor: quando o chefe da
NASA, Al Harrison (Kevin Costner, carismático e contido) faz um discurso quanto
a importância do trabalho de toda a sua equipe para os próximos meses, Melfi utiliza
da mise em scène de maneira perfeita para mostrar Katherine se sentindo
deslocada no ambiente, seja por colocar ela no ponto mais forte do quadro
(superior direito), de vestido verde, enquanto a sala é preenchida por homens
que usam branco, ou mesmo pela maneira
com que o cineasta usa dos movimentos de Harrison para tapar a presença da
personagem em momentos chaves do discurso... Mas é apenas isso, não há outro
bom momento do diretor em todos os seus 127 minutos.
Durante o restante da projeção Melfi aposta sempre
na abordagem mais óbvia possível. Assim, “Estrelas além do Tempo” é o tipo de filme
que sente a necessidade de mostrar um foguete sendo lançado ao espaço para
sinalizar que agora as personagens se encontram na NASA, ou mesmo de colocar um
personagem atendendo ao telefone com um “Alô. Sim, Sr. Presidente” enquanto uma foto
de Kennedy é mostrada atrás do personagem – e isso até poderia funcionar como uma
simples introdução do contexto no qual o filme se passa se não fosse o fato de
que vemos a foto de Kennedy outras 10 mil vezes, bem como vídeos de arquivo do
então presidente dos EUA, o que só mostra uma tentativa dos realizadores em martelar a informação para o espectador.
Ainda, Melfi demonstra não saber que filme
desejava criar, já que a narrativa apresenta um caráter bipolar, apostando em
tentativas cômicas (que jamais funcionam). Isso fica claro nos momentos em que
Katherine Johnson deve se ausentar durante 40 minutos em seu trabalho para
poder ir ao banheiro destinado a pessoas negras, e que fica do outro lado da
propriedade, com o filme encarando com humor aquilo que é claramente um momento triste e difícil - e se Melfi não queria apostar numa melancolia para essa cena,
também não era necessário tentar gerar o riso. O mesmo pode ser visto na
sequencia que mostra Dorothy Vaughan sendo enxotada com seus filhos da
biblioteca por estar na área destinada aos brancos, um momento claramente
delicado e revoltante, mas que o filme resolve fechar com uma “piada”, tentando suavizar a situação.
Contando ainda com efeitos especiais bem abaixo da
média, podemos talvez resumir muito das qualidades e defeitos deste filme em
sua fotografia, que para mostrar a infância de uma personagem aposta num tom
marrom desbotado, substituindo-o para uma imagem radiante e de cores vivas ao
estabelecer sua história nos anos 60: o filme é funcional em sua proposta “feel
good”, mas extremamente falho em qualquer pretensão dramática por sua abordagem
óbvia demais. “Hidden Figures” merece muito destaque por sua temática, por
retratar personagens principais com complexidade humana em seus sonhos e frustrações,
mas a proposta do diretor acaba prendendo uma história importante e de apelo
atemporal em um filme que não sobreviverá para “além do tempo”.
Bom
Por Han Solo
É claro que valores políticos, históricos e/ou sociais não são o bastante para “desculpar” filmes ruins – e quem leu meus textos sobre Histórias Cruzadas ou A Garota Dinamarquesa, por exemplo, sabe que não costumo ignorar problemas em um trabalho apenas por achar que sua mensagem é, no fundo, bem intencionada. Adoro ler livros, cada um é diferente na narrativa e nos personagens, é bom que cada vez mais diretores e atores se aventurem a realizar filmes baseados em livros. Adorei 7 Minutos Depois da Meia Noite, dos melhores filmes baseados em livros , porque tem toda a essência do livro mais sem dúvida teve uma grande equipe de produção. É muito inspiradora, realmente a recomendo.
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