Documentário
Data de Estreia no Brasil: Não prevista
Direção: Ron Howard
Distribuição: Imagine Entertainment
Em minha crítica a “Inferno” apontei a preguiça
alarmante com a qual Ron Howard parecia dirigir aquela... "coisa", já que era
impossível notar qualquer sinal de um mínimo engajamento do diretor em envolver
o espectador na estória do filme. Aparentemente, Howard estava guardando sua
energia para dirigir com inteligência este documentário “The Beatles: Eight
Days a Week – The Touring Days” (a partir de agora, somente “Eight Days a Week”).
Relatando os anos de turnê da banda, o diretor consegue juntar as principais
histórias do quarteto sem soar prolixo, estabelecendo uma narrativa bem
estruturada na qual a entidade “The Beatles” como banda é privilegiada em
detrimento de retratar detalhadamente a personalidade de cada indivíduo.
Esta se mostra uma decisão acertada,
visto a quantidade de documentários e obra ficcionais sobre o grupo que já
existem. Ainda assim, o cineasta consegue utilizar da personalidade de cada integrante
do grupo para estabelecer um ponto importante para a construção dramática do
documentário – Como a timidez de Harrison aflorar como aversão a beatlemania e
partidária do fim das turnês; o carisma de McCartney que funciona em contraste
quando tem de dar uma resposta mais ríspida à imprensa; Lennon sendo o mais
arrojado do grupo, o que logo se estende em suas declarações polêmicas; ou
mesmo as personalidade leve e divertida de Rigo, que é retratado como a peça
final que fez a banda funcionar.
Assim, o longa consegue certas proezas
como saber estabelecer um tom de decadência na energia da banda para os shows
em suas turnês, soando um tanto melancólico na medida certa, ainda que
apresentado como uma reação natural pra o desenvolvimento sonoro da banda. O
maior tropeço, nesse sentido, são as tentativas de espelhar a história da banda
em seu período histórico, que acabam por variar muito em sua eficácia: se por
um lado há um belíssimo momento que mostra a atitude dos Beatles contra a
segregação racial em seus shows, por outro as correlações com o assassinato de
J. Kennedy soa frouxa e pouco orgânica na estória – o que é mesmo uma pena, já
que melhor abordada poderia mostrar outra faceta do alcance da música do grupo.
Contando com convidados das mais
variadas formas de arte para dar depoimentos (desde músicos, atores, cineastas
e escritores), o documentário consegue (aí sim) estabelecer bem a influência da
banda para a cultura da época – e o depoimento de Whoopi Goldberg acerca de um
momento de sua juventude comove com a sinceridade na narração da atriz. O longa
ainda consegue apresentar a “beatlemania” como um movimento para além da
histeria coletiva (que seria o caminho mais fácil), trazendo uma certa
compreensão divertida para o amor daquelas jovens pela banda, mesmo que o filme
saiba retratar bem o exagero de certos acontecimentos por parte das fãs.
Bem sucedido em também mostrar não só o
processo criativo da dupla Lennon McCartney, como também o cotidiano de
preparação para os shows em uma agenda desgastante, a montagem de Paul Crowder
(que dinamiza bem o roteiro de Mark Monroe e P.G. Morgan) aposta numa linha
narrativanão propriamente cronológica, mas sim numa afluência lógica de idéias e
temas da projeção, sabendo quando apresentar figuras importantes como Brian
Epstein e George Martin, sem fazer isso de maneira óbvia.
Tal decisão criativa de estrutura é
crucial para a criação de tensão nos acontecimentos relativos as declarações de
Lennon quanto ao fato de os Beatles serem mais famosos que Cristo, já que
apresenta contraste importantes naquele ponto de virada na carreira da banda,
como: as entrevistas bem humoradas do início da carreira que tornam-se trocas
de farpas com a imprensa estadunidense, ou mesmo toda a euforia na chegada da
banda pela primeira vez nos EUA (na chamada invasão britânica) com a rejeição
do mesmo país para com a banda, que chegou a ter organizações de queima de discos
e protestos contra os ingleses.
Mas o maior destaque com toda certeza
são as imagens de arquivo recuperados com precisão pela produção, que coloriu
arquivos mais famosos e clássicos da banda ao mesmo tempo em que traz uma
galeria de imagens desconhecidas pelo público (já que o filme é produzido pela
Apple Corps, não é de se espantar o acesso a tais materiais), algo que trás
frescor a um assunto já tão difundido e debatido como a carreira da banda. “Eight
Days a Week”, assim, pode até ter seus tropeços em relação ao ritmo ao longo de
sua narrativa, mas é um prato cheio para aqueles que são fãs dos rapazes de
Liverpool – e me incluindo neste grupo, não posso pensar em outra nota a não
ser:
Excelente
Por Han Solo
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