quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Crítica: "The Beatles: Eight Days a Week - The Touring Days"

The Beatles: Eight Days a Week - The Touring Days
Documentário
Data de Estreia no Brasil: Não prevista
Direção: Ron Howard
Distribuição: Imagine Entertainment


Em minha crítica a “Inferno” apontei a preguiça alarmante com a qual Ron Howard parecia dirigir aquela... "coisa", já que era impossível notar qualquer sinal de um mínimo engajamento do diretor em envolver o espectador na estória do filme. Aparentemente, Howard estava guardando sua energia para dirigir com inteligência este documentário “The Beatles: Eight Days a Week – The Touring Days” (a partir de agora, somente “Eight Days a Week”). Relatando os anos de turnê da banda, o diretor consegue juntar as principais histórias do quarteto sem soar prolixo, estabelecendo uma narrativa bem estruturada na qual a entidade “The Beatles” como banda é privilegiada em detrimento de retratar detalhadamente a personalidade de cada indivíduo.

       Esta se mostra uma decisão acertada, visto a quantidade de documentários e obra ficcionais sobre o grupo que já existem. Ainda assim, o cineasta consegue utilizar da personalidade de cada integrante do grupo para estabelecer um ponto importante para a construção dramática do documentário – Como a timidez de Harrison aflorar como aversão a beatlemania e partidária do fim das turnês; o carisma de McCartney que funciona em contraste quando tem de dar uma resposta mais ríspida à imprensa; Lennon sendo o mais arrojado do grupo, o que logo se estende em suas declarações polêmicas; ou mesmo as personalidade leve e divertida de Rigo, que é retratado como a peça final que fez a banda funcionar.
      Assim, o longa consegue certas proezas como saber estabelecer um tom de decadência na energia da banda para os shows em suas turnês, soando um tanto melancólico na medida certa, ainda que apresentado como uma reação natural pra o desenvolvimento sonoro da banda. O maior tropeço, nesse sentido, são as tentativas de espelhar a história da banda em seu período histórico, que acabam por variar muito em sua eficácia: se por um lado há um belíssimo momento que mostra a atitude dos Beatles contra a segregação racial em seus shows, por outro as correlações com o assassinato de J. Kennedy soa frouxa e pouco orgânica na estória – o que é mesmo uma pena, já que melhor abordada poderia mostrar outra faceta do alcance da música do grupo.
   Contando com convidados das mais variadas formas de arte para dar depoimentos (desde músicos, atores, cineastas e escritores), o documentário consegue (aí sim) estabelecer bem a influência da banda para a cultura da época – e o depoimento de Whoopi Goldberg acerca de um momento de sua juventude comove com a sinceridade na narração da atriz. O longa ainda consegue apresentar a “beatlemania” como um movimento para além da histeria coletiva (que seria o caminho mais fácil), trazendo uma certa compreensão divertida para o amor daquelas jovens pela banda, mesmo que o filme saiba retratar bem o exagero de certos acontecimentos por parte das fãs.
      Bem sucedido em também mostrar não só o processo criativo da dupla Lennon McCartney, como também o cotidiano de preparação para os shows em uma agenda desgastante, a montagem de Paul Crowder (que dinamiza bem o roteiro de Mark Monroe e P.G. Morgan) aposta numa linha narrativanão propriamente cronológica, mas sim numa afluência lógica de idéias e temas da projeção, sabendo quando apresentar figuras importantes como Brian Epstein e George Martin, sem fazer isso de maneira óbvia.
     Tal decisão criativa de estrutura é crucial para a criação de tensão nos acontecimentos relativos as declarações de Lennon quanto ao fato de os Beatles serem mais famosos que Cristo, já que apresenta contraste importantes naquele ponto de virada na carreira da banda, como: as entrevistas bem humoradas do início da carreira que tornam-se trocas de farpas com a imprensa estadunidense, ou mesmo toda a euforia na chegada da banda pela primeira vez nos EUA (na chamada invasão britânica) com a rejeição do mesmo país para com a banda, que chegou a ter organizações de queima de discos e protestos contra os ingleses.
      Mas o maior destaque com toda certeza são as imagens de arquivo recuperados com precisão pela produção, que coloriu arquivos mais famosos e clássicos da banda ao mesmo tempo em que traz uma galeria de imagens desconhecidas pelo público (já que o filme é produzido pela Apple Corps, não é de se espantar o acesso a tais materiais), algo que trás frescor a um assunto já tão difundido e debatido como a carreira da banda. “Eight Days a Week”, assim, pode até ter seus tropeços em relação ao ritmo ao longo de sua narrativa, mas é um prato cheio para aqueles que são fãs dos rapazes de Liverpool – e me incluindo neste grupo, não posso pensar em outra nota a não ser:




Excelente
Por Han Solo

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