quinta-feira, 15 de outubro de 2015

10 filmes para estudar História


       A relação entre História e arte sempre foi muito forte e frutífera. Como representante de sentimentos e pensamentos, a arte nunca escapou à atenção do historiador, sempre em busca desses elementos que nos revelam tanto sobre uma sociedade. O cinema certamente não é diferente, tendo sua própria origem localizada em um momento histórico importante no final do século XIX. Daí para a frente, o rolo das câmeras sempre foi muito utilizado para registrar momentos importantes, mas também, como é o caso ao qual nos voltamos aqui, transmitir alguma mensagem sobre um importante momento passado. Por conta disso, desde o início do século XX houve uma profusão de filmes com temáticas históricas das mais variadas, sempre com uma mensagem implícita da sociedade que os produziu, mostrando sua visão sobre o passado representado.
            Por conta do que foi comentado no parágrafo anterior, o História em 35mm traz uma lista de 10 filmes que podem ajudar na compreensão dos temas que representam. É importante frisar que os filmes não podem ser considerados como uma representação absolutamente fiel daquele passado, mas como um estudo que a ele se refere. Nessa lista preferimos privilegiar 10 temas que não costumam ser centrais dentro das aulas de História, principalmente os vários momentos da História Contemporânea que os professores tem pouco ou nenhum tempo para abordar. Esperamos que essa lista sirva como construtora de conhecimentos gerais sobre momentos importantes da história mundial, mas que também ajude quem irá prestar vestibular e tem pouco tempo ou material para estudar esses temas mais "periféricos". Aqui vai a lista:



O Guerreiro Genghis Khan (Sergey Bodrov) - A produção desse filme já é em si extremamente multicultural. O diretor é russo, o protagonista japonês, a produção é dividida por Rússia, Alemanha e Cazaquistão e as línguas faladas no filme são o mongol e o mandarim. Isso demonstra o esforço necessário para tirar esse ambicioso projeto do papel, que pretendia contar a história do famoso conquistador mongol em uma trilogia. Infelizmente os outros dois filmes não saíram do papel, portanto temos em "O Guerreiro Genghis Khan" apenas uma parte da biografia do personagem. Porém, isso já é mais do que o suficiente para dar origem a um excelente filme, que apesar de seguir uma estrutura mais clássica dos épicos hollywoodianos, mantém estética e elementos narrativos muito similares aos do cinema chinês. O resultado dessa mistura toda é um filme empolgante do começo ao fim, que consegue explorar muito bem a personalidade de seu protagonista, bem como a estrutura social dos mongóis, suas fascinantes estratégias de combate e sua incrível capacidade de mobilidade, que lhes rendeu a conquista do maior império terrestre da História ao longo de apenas três gerações.




A Irmandade da Guerra (Je-kyu Kang) - produção sul-coreana, "A Irmandade da Guerra" procura demonstrar a Guerra da Coréia (1950-1953) como a guerra civil que ela realmente foi, rachando um país em dois e destruindo milhares de famílias no processo. Quase sempre considerada como um dos principais episódios da Guerra Fria, por conta do envolvimento de Estados Unidos e União Soviética, muitas vezes nos esquecemos de olhar para a tal guerra como uma disputa entre cidadãos de mesma nacionalidade. "A Irmandade da Guerra" constantemente nos lembra disso, com sua óbvia metáfora de dois irmãos que, assim como as duas Coréias, vão aos poucos afastando-se mais e mais com o decorrer do confronto. O interessante também é que, apesar de ser uma produção sul-coreana, o filme não cai no maniqueísmo barato de apontar heróis e vilões, apesar de escorregar em determinado momento ao apontar uma certa "lavagem cerebral" feita pelos norte-coreanos, comunistas (e que certamente não é uma coincidência).




Crônica de Uma Fuga (Adrián Caetano) - adaptação direta do livro escrito por Claudio Tamburrini sobre suas experiências como prisioneiro da ditadura militar Argentina, a história que "Crônica de Uma Fuga" se propõe a contar é extremamente contida e minimalista, visto que adapta uma experiência pessoal. Diferentemente de documentários como "O Dia que Virou 21 Anos" (que aliás, recomendo), este filme argentino não olha para a política e estrutura dos regimes ditatoriais, mas para como estes influenciam a vida de cada um de seus cidadãos. A partir da experiência pessoal de Claudio, preso e torturado por conta de uma simples denúncia de que ele era um "subversivo", podemos observar muito sobre o funcionamento da opressão das ditaduras militares sul-americanas, que empregavam dos métodos mais atrozes para combater os que consideravam "subversivos". Além dessa tocante experiência de vítima do totalitarismo, "Crônica de Uma Fuga" também explora a mentalidade coletiva daqueles que estavam no poder, tanto dos que davam as ordens quanto daqueles que se escondiam atrás da hierarquia para cometer todo tipo de violência física e psicológica, sob a justificativa de estar "apenas cumprindo ordens".




Argo (Ben Affleck) - primeiro filme hollywoodiano dessa lista, "Argo" se foca no envolvimento norte-americano na Revolução Iraniana (1979). Nesse caso, tal participação foi realmente relevante, visto que um dos principais motivos para a deposição do xá foi a revolta da população iraniana contra suas políticas pró-ocidentais. Além disso, um dos fatos mais marcantes da Revolução foi a invasão da embaixada norte-americana, que acabou por resultar no sequestro de 6 cidadãos norte-americanos, presos dentro da embaixada. É essa história que conta o filme dirigido e estralado por Ben Affleck, principalmente as ações da CIA e do agente Tony Mendez para trazer os funcionários da embaixada de volta aos Estados Unidos. Porém, como uma espécie de pano de fundo político, a produção traz uma visão muito direta sobre alguns dos principais motivos e acontecimentos da Revolução no Irã, que teve como resultado a substituição de uma monarquia pró-ocidental por uma república islâmica teocrática fortemente anti ocidental.




Paradise Now (Hany Abu-Assad) - assim como o filme anterior, "Paradise Now" traz discussões extremamente interessantes e pertinentes sobre a atual conturbada relação entre o mundo árabe e o chamado "Ocidente". Neste filme, o foco se dá sobre a complicadíssima disputa territorial na Palestina, em frequente conflito com Israel há pelo menos 50 anos. "Paradise Now" é uma produção palestina, e como tal, faz enorme justiça às causas e reivindicações de seus cidadãos contra os abusos imperialistas de Israel. A trama do filme se foca na história de dois amigos palestinos, Said e Khaled, que vivem em uma região de incessantes disputas e são convocados pelo principal grupo de resistência local a cometer um atentado à bomba em um ônibus carregando civis israelenses. Fugindo do clichê e do senso comum que classifica esses atentados como fruto de uma mentalidade de fanatismo religioso, "Paradise Now" também evita fazer-lhes uma apologia, mostrando esses atos como algo naturalmente justificável. O filme procura entrar na mente de seus personagens principais a fim de entender sem julgamentos precipitados o que leva um grupo de pessoas a tomar tão drástica atitude.


Todos os Homens do Presidente (Alan J. Pakula) - Mais do que uma ótima análise do famoso escândalo do Watergate e o presidente Nixon, este filme se mostra extremamente didático por nos colocar dentro das investigações feitas por dois repórteres do Washington Post no caso de espionagem política mais famoso dos E.U.A. Desde a invasão na sede do partido Democrata, até a renuncia do presidente Nixon, o filme nos leva de forma perfeitamente clara a cada uma das informações e descobertas dos jornalistas, além de suas matérias e repercussões,  mostrando com eficiência cada peça do imenso quebra-cabeça que representa a corrupção e perseguição política dentro de um dos países que mais se vangloria de seus processos democráticos. "Todos os Homens do Presidente" nos guia por um passado da história estadunidense que muitos tentam apagar, mas o filme (gravado apenas dois anos depois dos fatos retratados) persiste em evidenciar.



O Encouraçado Potemkin (Sergei Eisenstein) - O fato deste filme já ser um marco na história do cinema já valeria uma conferida, mas ao retratar com tamanho dinamismo e crueza os acontecimentos envolvendo a revolta de uma tripulação pelas péssimas condições dentro da embarcação torna este filme ainda mais brilhante. Estabelecido durante a Revolução de 1905, na Rússia, o filme acompanha tanto as condições de vida dos marinheiros, o movimento popular terrestre em apoio à revolta, até a já tradicional brutalidade militar que culmina numa das cenas mais lembradas da história do cinema. Esta obra não se limita aos acontecimentos que retrata, mas funciona muito bem também como uma tese sobre as injustiça sofridas pelas classes mais pobres bem como a força contida em uma revolta popular.


Em Nome do Pai (Jim Sheridan) - 1974, atentados a bomba feitos pelo IRA próximos a Londres levam cinco pessoas ao óbito e quatro jovens a serem acusados do crime, dentre eles, Gerry Conlon. Pressionados e torturados pela polícia britânica, os quatro foram presos por um crime que não cometeram. Retratando com brilhantismo os 14 anos de prisão de Conlon (os quais passou numa cela ao lado de seu pai, também acusado injustamente de terrorismo) "Em Nome do Pai" vai da completa alienação juvenil dos conflitos da Irlanda ao ativismo político. Dá liberdade desregrada de um jovem à seu grito de socorro e justiça. Ao estabelecer todos os elementos que constituem o contexto político envolvendo os países na época, este filme faz um papel semelhante ao do citado no parágrafo anterior, onde a brutalidade policial em nome da "justiça" é aquela que mais se torna injusta.

Adeus Lenin (Wolfgang Becker) - Kubrick com seu Dr. Fantástico (outro filme que recomendo fortemente) já havia mostrado que certos temas possuem um potencial de serem análisados de forma brilhante a partir da sátira. Adeus Lenin trabalha assim de forma extremamente inventiva a queda do muro de Berlin e as mudanças sócio-políticas a partir da história "tragicômica" de Alexander, um jovem que no dia 7 de outubro de 1989 mistura-se na multidão que protesta contra RDA, eis que sua mãe Cristiane sofre de um ataque cardíaco e fica em coma por 8 meses, perdendo assim a queda do muro e suas repercussões. As tentativas de Alexander em manter sua mãe recém saída do coma, acreditando que o RDA ainda existe, funcionam não só como pontos cômicos, mas também como elementos de estudo extremamente interessante sobre a visão de cada uma das pessoas que vivam numa mesma região, mas pensavam de formas diferentes.


Nascido em 4 de Julho (Oliver Stone) - Por mais que nosso objetivo neste post fosse buscar filmes em assuntos menos clássicos, não pudemos evitar a inclusão deste jovem clássico e sua contextualização da guerra do Vietnã: o que entra em jogo não é a temática, mas a abordagem diferenciada sobre o tema. Se a perda da inocência e a loucura já foram milhares de vezes retratadas no cinema com perfeição, "Nascido em 4 de Julho" toma um caminho mais pessoal que analisa um personagem, enquanto este questiona o panorama geral. Após se ferir em combate na guerra, Ron Kovic fica paraplégico e começa a questionar as motivações patrióticas de seu país na guerra em que este o meteu. O filme não é sobre o Vietnã em sua forma de guerra, não representa um imersão profunda ao campo de combate, mas sim é sobre um estado de espirito presente na geração dos E.U.A após o conflito. É sobre um estado psicológico de violência.

E aí, achou essa lista útil? Nos próximos dias estaremos lançando um vídeo em conjunto com o senta que lá vem história explorando os temas que chamamos mais "clássicos" (Roma antiga, Cruzadas, Revolução Industrial, etc.), mais voltado ao público que irá prestar vestibular.

Nenhum comentário:

Postar um comentário