domingo, 4 de outubro de 2015

Crítica: "Perdido em Marte"

Perdido em Marte
(The Martian)
Ação/Aventura/Ficção-Científica
Data de Estréia no Brasil: 01/10/2015
Direção: Ridley Scott
Distribuidora: Twentieth Century Fox Film Corporation


          Assim como a arte sobre a qual escrevem, críticos de cinema muitas vezes também não conseguem escapar a alguns clichês. Antes mesmo do lançamento de "Perdido em Marte", muito se falou de uma possível volta á boa forma por parte de seu diretor, Ridley Scott, que havia anteriormente lançado 3 filmes de qualidade questionável (para entender melhor isso, basta ler a crítica que escrevemos sobre o irritantemente medíocre "Exodus"). Um dos melhores diretores de todos os tempos, Scott realmente merecia um filme que o recolocasse dentre os grandes nomes da atualidade. "Perdido em Marte" é esse filme. Porém, diferente do que eu esperava antes de assisti-lo, a direção de Ridley Scott está longe de ser o principal ponto positivo do filme. Isso não quer dizer que ela não seja impecável, mas há tantos destaques a serem comentados que o trabalho do diretor acaba ficando em segundo plano.

       Baseado em um livro de mesmo nome, "Perdido em Marte" narra os esforços empreendidos por seu personagem principal Mark Watney para sobreviver em um ambiente inóspito, com recursos extremamente limitados. Essa curta sinopse é suficiente para encaixar "Perdido em Marte" em um excelente subgênero do cinema: os filmes de sobrevivência. Dessa forma, mais do que qualquer outra coisa, o aspecto do filme que mais define seu sucesso é a qualidade do elenco e a precisão com que os atores são escalados para seus papéis. E nisso "Perdido em Marte" acerta com precisão impressionante. Além da brilhante atuação de Matt Damon como o "perdido" Mark Watney, o filme conta ainda com uma lista recheada de grandes nomes de Hollywood interpretando coadjuvantes: Jessica Chastain, Jeff Daniels, Michael Peña, Kate Mara, Chiwetel Ejiofor, Sebastian Stan, Sean Bean (que surpreendentemente não tem seu personagem morto).
          Uma rápida olhada no estrelado elenco de coadjuvantes pode dar a impressão de que isso se constituiria em algo prejudicial ao filme, tirando o protagonismo de Watney, pois é obviamente em volta de seu personagem que gira toda a trama. Porém, dividir a atenção entre esses vários coadjuvantes é na verdade uma grande ideia do roteiro de Drew Goddard, pois alivia um pouco a dependência do filme à figura de seu personagem principal. Essa estratégia de roteiro, que poderia ser um verdadeiro tiro no pé, enchendo o filme de tramas secundárias desnecessárias, é na verdade o principal elemento de adaptação da história do livro para uma obra cinematográfica. Muitas das cenas que acompanham personagens secundários não existem no livro, mas tem uma razão de existir no filme, pois contribuem diretamente para o desenrolar da trama. Assim, o filme evita a utilização de flashbacks para deslocar a trama para longe de sua linha narrativa principal (como faz "O Náufrago", por exemplo). Mesmo assim, "Perdido em Marte" consegue desenvolver muito bem todos os seus personagens durante o desenrolar dos acontecimentos. Obviamente, o personagem a que isso mais se aplica é o de Mark Watney. Matt Damon interpreta o personagem principal de maneira extremamente natural, quase nos fazendo acreditar que realmente está falando para uma câmera da NASA e não de Ridley Scott. Um dos traços da personalidade de Watney que funcionam extremamente bem é o inabalável bom humor de Watney, capaz de fazer piadas diante de sua situação desesperadora. 
          Os vários alívios cômicos, proporcionados principalmente por Watney, fazem com que o filme nunca vire um drama de fato, apesar da situação de seu personagem principal e da presença de diversos momentos extremamente tensos. O roteiro não cai no elemento dramático mais fácil e óbvio para essa situação, que seria dar uma motivação mais profunda a Watney, como uma família que ele precise sobreviver para encontrar novamente. Evitando o clichê do pai que precisa voltar para encontrar sua família, "Perdido em Marte" abre espaço para explorar algo muito mais profundo: a luta do ser humano por sobrevivência, seja qual for a circunstância. Isso já havia sido explorado por outro excelente filme "Gravidade", mas ganha muito mais profundidade em "Perdido em Marte". Essa é a principal diferença entre os dois filmes, de premissas muito parecidas: enquanto, "Gravidade" (2013) dá um maior enfoque em seus aspectos técnicos e visuais, "Perdido em Marte" concentra sua atenção nos vários pontos de vista e nas ações de seus personagens.
            Por falar em aspectos visuais, "Perdido em Marte" possui uma belíssima fotografia e construção de cenários, proporcionando ótimas cenas que exploram a superfície do planeta vermelho. Aqui entra a direção de Ridley Scott, que não exatamente possui um estilo visual próprio marcante e facilmente identificável, mas consegue extrair o melhor das possibilidades que cada um dos roteiros que filma apresentam. Além disso, Scott dirige muito bem seus atores, coisa que certamente transparece neste filme. Depois de elogiar tanto "Perdido em Marte", passei algum tempo pensando em algum ponto negativo do filme. A única coisa que me incomodou um pouco é a queda de qualidade dos efeitos especiais em alguns momentos do filme, principalmente nas cenas que se passam no espaço. Porém, isso é praticamente procurar pelo em ovo, pois "Perdido em Marte" é um filme executado quase a perfeição, resultando em uma obra que aproveita elementos de vários gêneros e subgêneros para criar um dos melhores filmes de 2015.






Excelente

Por Obi-Wan

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